História da Biologia



História da biologia

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A Humanidade desde sempre estudou os seres vivos. Nos seus primórdios, o ser humano aprendeu a utilizar as plantas e os animais em seu proveito. Aprendeu a evitar plantas venenosas e como tratar os animais. Observando o comportamento dos animais, adoptou técnicas de caça. Partindo também dos conhecimentos acerca da utilidade e da época de frutificação de variados vegetais, desenvolveu a agricultura, aprendendo a garantir, de maneira mais constante e preditível, o sustento das comunidades. Os conhecimentos na área da biologia, embora empíricos e como exercício prático do dia a dia, existem já desde a época da pré-história. Prova disso são as representações de seres vivos em pinturas rupestres.

Antiguidade

O estudo da vida emergiu em várias civilizações e culturas, ao longo do tempo histórico. Na Mesopotâmia, sabia-se já que o pólen podia ser utilizado para fertilizar plantas. Elementos do mundo vivo eram já utilizados como objectos de comércio em 1800 a.C., durante o período Hammurabi, especialmente as flores. Os povos orientais já tinham conhecimento do fenómeno de polinização em palmeiras e do fenómeno de dimorfismo sexual em variadas espécies vegetais.

Na Índia, textos descrevem variados aspectos da vida das aves. No Egipto, a metamorfose de insectos e anfíbios são descritos. Egípcios e babilónios tinham já um conhecimento apreciável de anatomia e fisiologia de várias formas de vida. Na Mesopotâmia, animais eram mantidos naquilo que hoje podemos considerar como sendo os primeiros jardins zoológicos.

(jardins botânicos: babilónia)

No Egipto, eram usados baixos relevos e papiros para fazer a representação anatómico do corpo humano e de outros animais. A prática do embalsamento utilizado pelo povo egípcio requeria já um amplo conhecimento das propriedades de plantas e óleos de origem vegetal.

No entanto, nestas épocas, a superstição ainda vinha muitas vezes associada ao conhecimento objectivo. Na Babilónia e Assíria, orgãos de animais eram usados para prever o futuro, e no Egipto, uma grande dose de misticismo envolvia a prática médica.

Durante o período greco-romano, os estudiosos começam a dar mais ênfase e utilização a métodos racionalistas.

Aristóteles tornou-se, na Antiguidade clássica, num dos mais influentes e importantes naturalistas. Atingiu tal estatuto, fruto do seu aturado trabalho de observação da natureza, sobretudo no que diz respeito ao comportamento e características dos animais e plantas. Desenvolveu trabalho relacionado com a categorização dos seres vivos, tendo sido o primeiro a formular um sistema de classificação, baseado na distinção entre animais com sangue e animais sem sangue. Constatou a existência de orgão homólogos e análogos em vários grupos de seres vivos. O seu trabalho foi de tal modo importante que a sua influência e idéias perduraram durante séculos.

O sucessor de Aristóteles, Teofrasto, foi o autor de inúmeros trabalho sobre botânica (Historia Plantarum) que sobreviveram como sendo os mais importantes contributos para esta área até à Idade Média.

Na Roma Antiga, Plínio, o Velho é conhecido pelos seus conhecimentos em botânica e natureza em geral. Mais tarde, Galeno tornou-se num pioneiro nas áreas da medicina e anatomia.

Idade Média

A Idade Média é por muitos considerada como a idade das trevas, no que também diz respeito ao avanço do conhecimento científico. No entanto, e no que diz respeito às ciências biológicas, alguns avanços verificaram-se neste período. Muitos estudiosos de medicina começam a orientar o seu trabalho também para as áreas da zoologia e botânica.

É precisamente no mundo árabe que as ciências naturais mais se desenvolveram. Muita da literatura da Grécia Antiga, incluído as obras de Aristótles, foi traduzida para árabe.

De particular relevo encontra-se o trabalho de al-Jahiz (776-869): Kitab al Hayawan (Livro dos animais). Nesta obra, o autor discorre sobre variados assuntos, entre os quais há que frisar os que dizem respeito à organização social de insectos (especialmente formigas), à psicologia e comunicação animal. Parte da obra sobreviveu até aos nossos dias, encontrando actualmente numa biblioteca em Milão.

Durante o século XIII, Alberto Magno escreveu De Vegetabilis et Plantis (por volta de 1260) e De animalibus. Este autor deu especial relevância à reprodução e sexualidade das plantas e animais. Na primeira obra, há a destacar a diferenciação entre plantas monodicotilodóneas e dicotiledóneas e entre plantas vasculares e não vasculares. Alberto Magno foi beber dos conhecimentos de Aristóteles. Deles retirou o seu melhor, não se curvando sobre eles, mas adotando uma atitude crítica. Chega a afirmar que O objectivo da ciência natural não é simplesmente aceitar as afirmações de outros, mas investigar as causas que operam na natureza. Chega a dedicar um capítulo inteiro, numa de suas obras, ao que ele chamou de erros de Aristóteles. Tal como Roger Bacon, seu contemporâneo, Alberto Magno estudou intensivamente a natureza, utilizando de modo intensivo o método experimental. Em De vegetabilis relata que:A experimentação é o único meio seguro em tais investigações. Em termos do estudo da botânica, os seus trabalhos são comparáveis, em importância aos de Teofrasto. De referir que era um Doutor da Igreja. Este facto veio sublinhar o facto que a Igreja não se opõe ao estudo da natureza e que a fé e a ciência podem caminhar lado a lado.

Deram-se também avanços significativos em óptica, que no futuro proporcionou o desenvolvimento de um aparelho que iria revolucionar a maneira como os estudiosos viam e interpretavam o mundo vivo: o microscópio.

Talvez o principal legado da Idade Média para o avanço do conhecimento científico na área das ciências biológicas terá sido o estabelecimento de inúmeras universidades que funcionaram como gérmen do pensamento e método científico contemporâneos. Na Europa foram fundadas as primeiras universidades por volta de 1200 (Paris, Bologna e Oxford). Muitos documentos gregos e árabes começaram a ser traduzidos, dando ímpeto a um avanço em várias áreas do conhecimento, incluindo a Biologia e a Medicina.

Século XVII e Século XVIII

Em 1628, William Harvey mostra que o sangue circula pelo corpo todo e que é bombeado pelo coração. (fisiologia:Harvey:desenvolver). Com a descoberta do microscópio por Antony van Leeuwenhoek, por volta de 1650, abre-se um pequeno grande mundo que até então havia escapado ao olhar atento dos cientistas e curiosos.

O trabalho na área da história natural das plantas, foi impulsionado por Giovanni Bodeo da Stapel, em 1644, de forma quase enciclopédica.

Em 1658, Jan Swammerdam tornou-se o primeiro a observar eritrócitos, enquanto que Leeuwenhoek, por volta de 1680, observou pela primeira vez protozoários e bactérias.

Durante estes dois séculos, grande ênfase foi dada à classificação, nomeação e sistematização dos seres vivos. O expoente máximo desta actividade foi Lineu. Em 1735 publicou o seu sistema taxonómico, baseado nas semelhanças morfológicas entre seres vivos e na utilização de uma nomenclatura binominal (nomes científicos) em latim.

(focar: importância dos descobrimentos) (novamente: jardins botânicos) (exploradores)

A descoberta e descrição de novas espécies tornou-se nessa época, uma ocupação generalizada no meio científico.

Século XIX

Schleiden e Schwann propõem a sua teoria celular em 1839. Esta teoria tinha como princípios basilares o facto de a célula ser a unidade básica de constituição dos organismos e facto de que todas as células serem provenientes de células pré-existentes.

O naturalista britânico Charles Darwin, no seu livro A Origem das Espécies (1859) descreve a selecção natural como mecanismo primário da evolução. Esta teoria se desenvolveu no que é agora considerado o paradigma central para explicação de diversos fenômenos na Biologia

Em 1866, a genética dá os seus primeiros passos graças ao trabalho de um monge austríaco, Gregor Mendel. Nesse ano, formulou as suas leis da hereditariedade. No entanto, o seu trabalho permaneceu na obscuridade durante 35 anos.

Friedrich Wöhler demonstrou em 1828, que moléculas orgânicas como a ureia, poderiam ser sintetizadas por meios artificiais, abalando assim a corrente do vitalismo.

Em 1833, foi sintetizada artificialmente a primeira enzima (diastase): uma nova ciência, a bioquímica, começa a dar os primeiros passos.

Por volta de 1850, a teoria miasmática da doença foi ultrapassada pela nova teoria germinal da doença. O método antiséptico tornou-se prática usual na actividade médica.

Por volta de 1880, Robert Koch introduziu métodos para fazer crescer culturas puras de microorganismos, utilizando placas de Petri contendo ágar e nutrientes específicos. A disciplina da bacteriologia começava assim a tomar forma. Introduziu também aquilo a que se viria a chamar de postulados de Koch, permitindo através da sua utilização, à determinação concreta que um microorganismo provoca uma doença específica.

A geração expontânea, crença que afirmava a possibilidade de poder aparecer vida a partir de matéria não viva, foi finalmente desacreditada por via de experiências levadas a cabo por Louis Pasteur.

Em 1869, Friedrich Miescher descobre aquilo a que ele chamou de núcleína (tratava-se de um preparado rude de DNA).

O citologista Walther Flemming, em 1882, tornou-se no primeiro a demonstrar que os estágios diferenciados da mitose não eram fruto de artefactos de coloração das lâminas para observação microscópica. Assim, estabeleceu-se que a mitose ocorre nas células vivas e para além disso que o número cromossómico duplicava em número mesmo antes da célula se dividir em duas. Em 1887, August Weismann propôs que o número cromossómico teria pois que ser reduzido para metade, no caso das células sexuais (gâmetas). Tal proposição tornou-se facto quando da descoberta do processo da meiose.

Século XX

Mesmo no início do século XX, em 1902, o cromossoma foi identificado com a estrutura que alberga os genes. Desta forma, o papel central dos cromossomas na hereditariedade e nos processos de deselvolvimento foi estabelecido. O fenómeno de linkage genético e a recombinação de genes em cromossomas durante a divisão celular foram explorados, em particular por Thomas Hunt Morgan, através de organismo modelo: a drosophila melanogaster.

Ainda no início do século, deu-se a unificação da idéia de evolução por selecção natural com os processos da genética mendeliana, produzindo a chamada síntese moderna. Estas idéias e processos continuaram a ser investigados e aprofundados através de uma nova disciplina, a genética populacional. Mais tarde, na segunda metade do século, a sociobiologia e a psicologia evolutiva foram também beber dessas idéias.

Oswald Avery, em 1943, mostrou concludentemente que era o DNA e não as proteínas, que compunham material genético dos cromossomas. Em 1953, James Watson e Francis Crick mostraram que a estrutura do DNA era em forma de dupla hélice, Em paralelo, propuseram o possível papel da estrutura assim apresentada no processo de replicação. A natureza do código genético foi experimentalmente descortinado a partir do trabalho de Nirenberg, Khorana e de outros, no final da década de 50. Esta última descoberta aliada à descoberta da primeira enzima de restrição em 1968 e da técnica de PCR em 1983, proporcionaram o impulso da ciência a que hoje damos o nome de biologia molecular.

O estudo dos organismo, da sua reprodução e da função dos seus orgãos, passou a ser efectuado a nível molecular. O reducionismo na análise dos processos biológicos tornava-se cada vez mais triunfante e promissor. Mesmo os processos de classificação científica dos organismos, especialmente a cladística, passou a utilizar dados moleculares como as sequências de DNA e RNA como caracteres a ter em conta.

Nos meados da década de 80, como consequência do trabalho pioneiro de Woese (sequenciação RNA ribossomal do tipo 16S), a própria árvore da vida tomou nova forma. De uma classificação em dois domínios, passou-se a uma classificação em três domínios: Archaea, Bacteria e Eukarya.

Enquanto que o processo de clonagem em plantas era já conhecido há milénios, foi só em 1951 que o primeiro animal foi clonado pelo processo de transferência nuclear. A ovelha Dolly tornou-se depois, em 1997, no primeiro clone de mamífero adulto, através do processo de transferência de um núcleo de célula somática para o citoplasma de um ovócito anucleado. Poucos anos mais tarde, outros mamíferos foram clonados pelo mesmo método: cães, gatos e cavalos.

Em 1965, foi demonstrado que células normais em cultura dividiam-se apenas um número limitado de vezes (o limite de Hayflick), envelhecendo e morrendo depois. Por volta da mesma altura, descobriu-se que as células-tronco eram uma excepção a esta regra e começou-se o seu estudo exaustivo. O estudo das células-tronco totipotentes começou a ser crucial para se entender a biologia do desenvolvimento, levando também à esperança de aparecimento de novas aplicações médicas de importância relevante.

A partir de 1983, com a descoberta dos genes homeobox, muitos dos processos de morfogénese dos organismos, do ovo até ao adulto, começaram a ser descobertos, começando pela mosca-da-fruta, passando por outros insectos e animais, incluindo o Homem.

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