Cientistas estimaram que um total inferior a 3,5 mil fêmeas de Neandertal capazes de ter filhos viviam simultaneamente na Europa entre 70 mil e 38 mil anos atrás - e utilizaram para o cálculo um método mais rápido e potencialmente muito mais barato do que sequenciar genomas completos.
Celebridades científicas como Craig Ventner podem ter passado por sequenciamento completo de seus genomas, mas os restos dos homens de Neandertal são fragmentários e estão contaminados demais para propiciar bom custo/benefício ao trabalho de sequenciamento de seus genomas, de acordo com Adrian Briggs, aluno de pós-graduação no laboratório de genética evolutiva de Svante Paabo, no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha.
Briggs e colegas da Espanha, Croácia, Rússia e outras instituições da Alemanha optaram por identificar sequências curtas do genoma dos homens de Neandertal a fim de estudar a diversidade genética entre cinco espécimes localizados nesses países.
A técnica de sequenciamento adotada, conhecida como captura de extensão primal, compara sequências alvos escolhidas em um genoma de referência -no caso um genoma mitocôndrico previamente sequenciado para os homens de Neandertal - com DNA extraído e amplificado de uma nova amostra, tal como um osso da perna de outro Neandertal.
O estudo, publicado pela revista Science, também submete o novo método a teste ao tentar resolver questões quanto à diversidade dos homens de Neandertal.
Espécie estreitamente aparentada
Os pesquisadores utilizam a diversidade genética como um relógio que permite avaliar por quanto tempo grupos de indivíduos viveram distantes uns dos outros. Quando a equipe comparou a diversidade genética do DNA mitocôndrico, ou mtDNA, de seis indivíduos Neandertal, encontrou diversidade muito menor do que se poderia esperar entre seis amostras de europeus modernos encontrados em dispersão semelhante.
A diferença implica em que, entre 70 mil e 38 mil anos atrás, as comunidades de homens de Neandertal vivessem em bolsões menores e mais isolados. A equipe estima que entre 2,7 mil e 3,5 mil fêmeas capazes de gestação convivessem a um só tempo na região como parte da população total, que incluiria também suas famílias e outros homens e fêmeas de Neandertal incapazes de procriar. A estimativa da equipe quando ao número de fêmeas capazes de procriar é semelhante à de uma avaliação anterior com base no genoma de um único homem de Neandertal.
Tanto Degioanni quanto Briggs esperam que futuros estudos de DNA nuclear, material mais complexo e que contém mais variações, ajudem a dirimir de maneira mais definitiva a questão da diversidade.
Paleogenômica para as massas
Briggs, Paabo e seus colegas são parte do Projeto do Genoma Neandertal, um consórcio internacional que está trabalhando para sequenciar todo o genoma dos homens de Neandertal. Em companhia de um projeto paralelo comandado por Edward Rubin no Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, em Berkeley, Estados Unidos, as equipes sequenciaram extensas seções do genoma Neandertal nos últimos anos, utilizando métodos de divisão do DNA em pequenos fragmentos, que são sequenciados, montados e comparados em busca de sobreposições.
Os grupos estimam o momento em que a evolução dos Neandertal e dos seres humanos divergiu, e estudam traços físicos que podem estar codificados no genoma Neandertal, tais como cor de cabelo e capacidade de fala.
O método continua a ser o mais eficiente para a obtenção de uma sequência genômica plena. Mas aplicá-lo a amostras tão antigas pode ser difícil, dada a contaminação destas por DNA distinto. Briggs diz que "é preciso remover muitos resíduos antes de encontrar uma sequência que interesse. Um osso que estudamos pode conter até 99% de DNA bacteriano". DNA de humanos modernos também pode contaminar as amostras.
O biólogo Tom Gilbert, da Universidade de Copenhagen, Dinamarca, concorda. "O método em geral garante que os nucleotídeos sejam sequenciados múltiplas vezes, permitindo que uma sequência precisa seja obtida", diz. Porque Briggs e seus colegas conseguiram utilizar o método para os Neandertal, Gilbert afirma que isso pode levar outros pesquisadores a retornar a amostras anteriormente estudadas de outras espécies paleolíticas, como o mamute.
Projetos de sequenciamento completo, como os mencionados anteriormente, requerem verbas significativas para cobrir o custo do sequenciamento de todo o genoma, um trabalho dispendioso. Mas Gilbert diz que a alternativa mais barata de captura de extensão primal, somada a outras abordagens que estão em desenvolvimento e se baseiam no uso de métodos de sondagem, pode representar "um passo essencial para abrir o estudo da paleogenômica às massas".
Tradução: Paulo Migliacci ME
Novo método estuda diversidade dos homens de Neandertal
Postado por
Nando Sant Anna
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Marcadores: Curiosidades , Noticias
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